segunda-feira, 9 de julho de 2007

Declaração I

Intoxiquei-me durante algum tempo. Conscientemente, turvei a vista. Fugi para a frente. Descaradamente. Intoxiquei-me e intoxiquei outros, também. Sem pudor. Sem peso ou medida. Pateticamente intoxicado. Intoxicado e cansado. Mais velho e... cansado. Mais curvado. Com mais dores. Vaidoso. Cheio de mim. Vazio. Pediam-me que descansasse. Não os ouvia. E não descansei. Não parei, para que nao me apanhassem. Fugia. Sempre a fugir. Sempre a correr. Não me apanham. Não me apanham. Não me hão-de apanhar. Não posso ser apanhado. Quem foge de si próprio caminha com o seu perseguidor. Abrandei. Desacelerei. Cerro menos os olhos. Faço menos rugas.Vejo mais. Sorrio mais. Rio mais. Oiço mais. Falo menos. Gosto mais das pessoas. Sinto-me menos egoísta. Estou menos egoísta. E, surpreendentemente, gosto. O espelho começou a ter brechas, riscos, por onde é possível espreitar. Começa (é mais um recomeço) a parecer apenas vidro. Quebrável. Devagar. A pouco e pouco, vou tentando dar o melhor de mim aos outros.

2 comentários:

Anónimo disse...

aprender a dizer o amor que se sente pelos outros é reconhecer que se sente esse amor e que ele nos faz falta. texto lindíssimo. ass: camarelo.

supergato disse...

que o sol nos mostre o caminho de pedras que fazem os pés sangrar... mas que chega ao céu!:-)